segunda-feira, 21 de abril de 2014

Grandes encontros

O feriado de Páscoa prometia. Recebera um time de primeira na minha cidade, o divertidíssimo Daniel Santos e seu filho Luis Henrique, o nobre Paulo Couto(que nos presenteou com uma belíssima foto do chifre-de-ouro e uma perfeita ilustração do gavião-de-penacho, mostrando que além de excelente fotógrafo, é um ótimo ilustrador) e o grande ornitólogo Wagner Nogueira(que possui um talento ímpar para identificar aves).

Daniel, Luis, Paulo, eu e o Wagner, na floresta encantada
Foto cedida pelo Daniel Santos

Apesar do descanso reprodutivo(época que as aves ficam menos ativas), a floresta encantada não só não decepcionou, como confirmou seu grande potencial.
Até para um profissional como o Wagner teve lifer - o rabo-branco-pequeno(Phaethornis squalidus). Aliás a floresta estava muito florida, beija-flor-cinza(lifer pro Paulo), estrelinha-ametista, beija-flor-de-peito-azul, beija-flor-preto, entre tantos outros enchiam a mata de trinados e zumbidos.
Chegamos até visitar uma RPPN em João Monlevade. Mata alta, bonita... mas passarinho que é bom mesmo...
Resolvemos então explorar trechos da floresta encantada que adentram o município vizinho de São Gonçalo do Rio Abaixo e que eu nunca havia ido. Eram grotas com árvores altas, mata fechada, entre elas um pequeno eucaliptal.

Foto de Daniel Santos


Já havíamos encontrado curió e azulão na área piracicabense da floresta, o que foi motivo de grande alegria pra mim, pois já há um bom tempo procurava estes bichos na minha cidade.
Aproveito o ensejo para agradecer ao Wagner, foi ele que encontrou os bichos. Graças a ele também encontramos oito novas espécies para a lista da cidade, como o sabiá-do-banhado(Embernagra platensis), o chocão-carijó(Hypoedaleus guttatus) e o rabo-branco-pequeno(Phaethornis squalidus).


Sabiá-do-banhado encontrado no distrito de Conceição de Piracicaba

Rabo-branco-pequeno

Azulão fêmea

Curió jovem
Foto gentilmente cedida pelo Paulo Couto


































Explorando a floresta no trecho do município vizinho encontramos também o joão-corta-pau(mas sem chance pra foto) e formigas de correição que eram seguidas por uma grande quantidade de barulhentas papa-taocas-do-sul e de um bando de saguis-de-cara-branca.

Sagui-de-cara-branca


Papa-taoca-do-sul seguindo formigas-de-correição


Mas o melhor ainda estava por vir.
Estava com o Wagner explorando novas áreas, enquanto os amigos santoantonienses tentavam melhorar o registro do formigueiro-da-serra, quando escutamos um pio. O Wagner exclamou: gavião! Completei: pega-macaco!
A euforia tomou conta, o playback foi prontamente atendido com um sobrevoo lento, quase pairado como um albicaudatus. Então ouvimos outro, era o casal que já havia registrado outras vezes na floresta encantada. O Wagner saiu correndo para chamar os outros amigos. Todos ficamos muito felizes em encontrar o lendário apacanim-preto!
Lembro-me que o Daniel havia me questionado, há um bom tempo atrás, sobre um registro que havia feito em Caeté. O gavião-pega-macaco era um antigo sonho para ele, e com certeza para seu filho também, o Luis Henrique. O Paulo havia feito um importante registro deste rapinante florestal em Mato Grosso, mas ele não estava satisfeito com a foto, queria melhorar o registro. E até para um profissional como o Wagner, acostumado a grandes encontros, era impossível ficar indiferente àquela imponente presença.
Quanto a mim, um aficionado em aves de rapina desde criança, tal encontro sempre será regado de adrenalina, entre outras biritas naturais.

Foto sem crop


Todos satisfeitos e famintos, despedimo-nos da floresta que abriga tantos tesouros.

Foto: Paulo Couto

O Wagner teve que retornar para sua casa naquele mesmo dia. Nós tínhamos ainda a manhã do dia seguinte. Então voltamos à floresta com o intuito de fotografar o joão-corta-pau e o curió(no dia anterior não consegui fotografá-lo e desejava muito registrar aquela rara ave na minha cidade).
Não encontramos o curió, mas encontramos o pica-pau-rei, lifer pro Daniel e pro Luis, já pra mim e pro Paulo foi uma oportunidade de melhorarmos nosso registro deste belíssimo pica-pau, o maior do Brasil.





Reencontrar os amigos numa passarinhada já é bão dimais!

Então o que dizer quando tal encontro nos proporciona algo sonhado há décadas?

Quando o ser que você sempre admirou, uma criatura que por anos povoou somente a imaginação de um menino, até que uma foto de um indivíduo pousado deu vida a descrições de textos antigos.

Quando este ser, alçado a condição quase divina, inatingível a nós meros mortais, não só desce de seu reino, mas o fita com sua alma, o que dizer?
Melhor só sentir:







Por fim só posso agradecer aos grandes amigos que me deram a honra de suas visitas.
Valeu demais pessoal!!!

terça-feira, 15 de abril de 2014

De volta à velha e boa terrinha


Hoje amanheceu chovendo, Timá já praguejou, "invernou". Em outras épocas ficaria melancólico, mas hoje em dia tô sentindo tanta falta de chuva que o filme que mais quero ver quando tiver um tempinho é "Noé".

Belo Horizonte, Governador Valadares, Brasília, BH de novo e agora Rio de Janeiro, "quem foge à terra natal, em outros cantos não para", mas sempre volta à boa terrinha, cedo ou tarde, em definitivo ou a passeio, no meu caso gozando uns poucos dias de férias.

A época não está pra ave, descanso reprodutivo. Vocalizando pouco e se juntando em bandos mistos, a gente tem que dar sorte em topar com um deles.

Topei com um, mas não era misto, no mínimo uns 6 papa-taocas-do sul, ave geralmente de "brenha", difícil de fotografar.


























Notícia boa foi a volta dos falcões-morcegueiros, o casal. Com a retirada da antena que servia de poleiro aqui no prédio vizinho, eles se mudaram para a Matriz de São Miguel.
Ontem estavam caçando pra estas bandas. Flagrei um deles acho que procurando morcego dentro de um apartamento no prédio onde era sua antiga morada.



Na primeira passarinhada aqui em Rio Piracicaba(Piracity para os íntimos) registrei uma nova espécie para a lista da cidade(http://www.taxeus.com.br/lista/370), o belíssimo beija-flor-de-veste-preta. Encontrei-o na borda de uma mata, na fazenda do meu primo e grande amigo Geraldinho.
Infelizmente estava no alto de uma árvore, o que impossibilitou um registro à altura da beleza desta pequena ave.


Na fazenda fui acompanhado pelo caseiro, o Seu Hélio, que, bastante comunicativo, disse que já viu preguiça, onça e lobo-guará na fazenda, sobre as aves contou que no ninho de alma-de-gato tem pedra preciosa, de tão difícil que é achar, e que papagaio nasce sempre em um certo dia de novembro, minha memória capenga não me deixa lembrar a data, acho que doze. Deu notícia também de curió, que aparece de vez em quando.
O acesso à mata(terciária e secundária creio eu), é um pouco difícil, então não deu tempo de irmos até o ponto onde ele encontrou a preguiça(queria ver este bicho em seu habitat pela primeira vez e ainda na minha cidade...). Meu tio mais velho, o Iéié, me acompanhava e seria muito sacrifício para ele chegar até lá.
Mas encontramos espécies como a cigarra-do-coqueiro, pintassilgo, sanã-parda, tiê-preto, rendeira, gavião-caboclo e fiz algumas fotos legais.

Bico-de-veludo

Andorinha-pequena-de-casa e andorinha-serradora


Mas a floresta encantada continua imbatível. Apesar da época não ajudar, além da grande quantidade de olho-de-fogo, encontramos gavião-miúdo, gavião-de-cauda-curta, um casal de acauãs vocalizando, falcão-de-coleira, gavião-carijó, gavião-de-rabo-branco "peneirando", além de um pio típico de ave de rapina que não identifiquei, os rapinantes gostam mesmo daquelas alturas.

Aos registros mais legais:

Guigó ou Sauá alimentando-se dos frutos da embaúba

Um belíssimo pica-pau-de-banda-branca alimentando-se

Surucuá-variado com seu traje de gala

Acho que estavam pedindo alimento para a mãe Tuim


Ia me esquecendo, digno de nota também foi ouvir pela primeira vez na floresta encantada o pixoxó. Bom sinal...