domingo, 23 de fevereiro de 2014

Novidades da Janela

Aproveitando o convite que recebi do grande Fernando Pacheco - autoridade ornitológica do nosso país - para ingressar na douta lista de discussão ornitológica "Novidades da Janela". E como passarinho mais da minha "janela"(quase diariamente) do que em qualquer outro lugar, resolvi criar mais uma série: "Novidades da Janela".

Nesta selva de pedra deparo-me de vez em quando com cenas do mundo animal interessantes. Neste primeiro episódio, o gavião-carijó que caçou o pombo-doméstico.


Primeiro o suiriri atacou o gavião-carijó, que, provavelmente já imbuído de instinto assassino,  incomodava a pequena ave.




A bicharada, com razão, começou a se alvoroçar.



Esta foi a última cena antes do fatídico momento:





O gavião sumiu, continuei brincando com meu filhote e depois de um tempo, quando dou aquela perscrutada no ambiente... "Epa! Que que é aquilo?! Acho que não é pombo não!"

Peguei a câmera e para minha surpresa o gavião tinha predado um pombo-doméstico! Ficou um bom tempo parado, no mesmo prédio que estava antes, um tanto desconfiado com os pombos que assistiam a tudo inertes.

A partir do momento que flagrei aquela cena, o pombo que estava em suas garras não se mexeu, não sei se já estava morto, de qualquer forma o gavião demorou alguns minutos para começar a se alimentar(ou recomeçar, não sei).

Já vi este gavião - que antigamente eu subestimava - dando mergulhos verticais alucinantes. Mas caçar um pombo-doméstico foi um fato inédito para mim, nem sequer havia lido nada a respeito. Realmente uma bela novidade da janela.





domingo, 16 de fevereiro de 2014

Herborizar e passarinhar

Fui agraciado pelo tabelião e velho amigo Breno Barros com a obra de Auguste de Saint-Hilaire intitulada Viagem pelas províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais, que o renomado botânico francês conta suas andanças por estas terras ainda selvagens.

O que me chamou bastante atenção é que Saint-Hilaire hospedou-se por um bom tempo na fazenda de familiares, no começo do séc. XIX.

Rio Piracicaba, que na época era conhecida como São Miguel do Mato Dentro, ainda contava com muitas matas virgens, e não à toa o botânico francês comparou a luxuriante vegetação de lá com a encontrada no Rio de Janeiro.

Pois bem, tal intróito foi somente para contextualizar uma passagem desta obra que me provocou alguma diversão, com muita familiaridade.

Enquanto se hospedava em Itajuru, localidade que até hoje existe em Rio Piracicaba, na fazenda do sr. Capitão Antônio Gomes de Abreu Freitas, Saint-Hilaire aproveitou para excursionar à já famosa ermida de Nossa Senhora Mãe dos Homens, bela igreja localizada aos pés da serra do Caraça, lugar maravilhoso que até hoje atrai botânicos, passarinheiros e afins de todo mundo.

Durante sua estada no Caraça, Saint-Hilaire nos brinda com esta pérola:

"...passei todo o dia herborizando nos arredores da ermida."


A passagem acima foi uma divertida surpresa e a analogia foi inevitável. 

Será que os ornitólogos da época já usavam o termo "passarinhar"?

A resposta pode vir do próprio Caraça.

Ano passado, durante passarinhada com meu fiel companheiro de passarinhadas, tio Maninho, conheci o famoso padre fotógrafo do Caraça, o Padre Lauro. Não o conhecia, nem por fotos, mas o interesse que meu equipamento e minha indumentária provocou naquele velho homem o denunciou.

"O senhor é aquele padre fotógrafo aqui do Caraça?" Saiu-me por instinto. 

Após este primeiro - e meio esquisito - encontro, o padre não parou mais de contar histórias das mais variadas sobre a natureza do local. Aos poucos eu ia levando a conversa para o mundo das aves e logo ele já estava com um guia procurando lifers para mim. Tive que me despedir senão o dia acabava naquela prosa boa. Então soltei: "Quem sabe um dia saímos juntos para passarinhar?" 

Com toda educação, o padre pediu até licença para me corrigir. Disse que passarinhar significa "matar" aula. Antigamente os alunos "matavam" aula para matar passarinho - disse o padre fotógrafo. 

Bem, da próxima vez que o encontrar vou convidá-lo para fotografar, pois passarinhar saiu de moda para aquele bom e velho padre.

Serra do Caraça, onde Auguste de Saint-Hilaire herborizou no começo do séc. XIX, vista de Rio Piracicaba

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Luz, câmera, ação! Parte II

Ave!

Esta semana fui surpreendido aqui em casa com uma cena pouco comum. Para minha sorte, estava na varanda, e com a câmera!

Escutei a vocalização de um peregrino:



Até aí, claro, sempre uma alegria, mas, qual foi minha surpresa quando notei que ele estava sendo perseguido por um casal de carcarás sanguinolentos!

Tudo, óbvio, numa fração de segundo!

Os carcarás, como boeings perseguindo um caça, desistiram. Primeiro a fêmea pousou e, como se aquela perseguição a excitasse, começou a chamar o macho, com aquele característico "carácará", que a atendeu prontamente, e sem perder tempo já foi direto ao assunto(a distância não ajudou, mas taí o flagra).

















domingo, 9 de fevereiro de 2014

Nova Friburgo

Ave amigos!

O Brunão já havia me dito, em outras épocas, sobre uma região que ele conhecia pros lados de Sana que havia muita mata e, por conseguinte, deveria haver muito bicho. "Qualquer dia destes vamos lá!" E ele ainda nem era passarinheiro! Mas agora... ficar sem dormir, ansioso, até meia noite e disposição para acordar 4 e meia da matina... é coisa de passarinheiro convicto!

Desta vez contamos com a companhia de minha adorável prima Rosana, esposa do Brunão, que está se revelando uma excelente observadora de aves, muitas vezes até encontrando espécies que nos passam desapercebidas. Espero contar com sua agradável companhia nas nossas passarinhadas daqui pra frente, viu Rosana?

Contamos também com as informações precisas e preciosas dos notáveis Gabriel Mello e Guilherme Serpa, sem as quais não lograríamos o êxito alcançado. Digo isto porque foi bão dimais, obrigado amigos!

Como foi um bate-e-volta, não daria tempo de percorrer todos os lugares sugeridos, então resolvemos ir ao mais próximo do Rio, uma trilha que tinha como ponto de referência o posto da polícia rodoviária. Não foi difícil achar, mas sem as referências é praticamente impossível chegar. Não tem placas, portaria, nada. Entramos numa precária estrada vicinal e seguimos até seu fim, a partir dali só uma pequena placa avisava que aquela trilha adentrava o Parque Estadual dos Três Picos.

O Guilherme havia dito que era uma trilha bem interessante, mas eu não sabia que era dentro do parque, o que tornou realmente as coisas mais interessantes. Dentro de uma área de preservação as possibilidades sempre aumentam e o imprevisível se torna ainda mais atraente.

Apesar de chegarmos relativamente tarde no local(devido a pequenos imprevistos), bastou poucas horas para observarmos várias espécies muito legais, ora sozinhas, ora em animados bandos mistos.

Posso citar aqui sabiá-una, picapauzinho-de-testa-pintada, rendeira, tangará, arapaçu-rajado, maria-preta-de-bico-azulado, surucuá-variado, limpa-folha-de-testa-baia, beija-flor-rubi, beija-flor-de-papo-branco, saíra-lagarta e os lifers, rabo-branco-de-garganta-rajada, arapaçu-grande, choquinha-de-asa-ferrugem, surucuá-de-barriga-amarela e choquinha-carijó(que não deu chances para foto).

Claro que estas foram somente algumas, muitas não conseguimos identificar ou a memória me deixou na mão. Enfim, nossa passarinhada em Nova Friburgo foi excelente! E olha que foram apenas algumas horas em um local, ainda falta muito a passarinhar, mas o próximo destino já tem nome, Pico da Caledônia, e alvo, saudade-de-asa-cinza, uma das espécies mais raras do Brasil.

Vamos às imagens:

Chuva? Sem chance... estamos pagando caro pela devastação. Mas este belo pitiguari achou um jeito de se refrescar num cano furado próximo à entrada da trilha

Maria-preta-de-bico-azulado jovem


Arapaçu-rajado procurando alimento nesta bromélia


Arapaçu-grande, aliás, bem grande


Oportunidade excelente!
Este surucuá-de-barriga-amarela pousou na altura dos olhos, mas só consegui fazer este click, voou logo em seguida.



Choquinha-de-asa-ferrugem enchendo o quadro



Achei até que fosse o acanelado, mas para minha alegria era o de garganta-rajada, lifer de nº 611


segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

AVES do JB

Amigos, como costumo ir ao Jardim Botânico daqui do Rio com certa frequencia, devo postar bastante coisa de lá, então vou começar uma nova série aqui, o Aves do JB.

Bem, os arapaçus já são interessantes de se observar por si sós. Imagina o namoro...
Eu e o casal de primos Brunão e Rosana pudemos presenciar grande parte das preliminares, infelizmente o desfecho(se houve) não foi observado.

Interessante também observar que, conforme lição do grande Fernando Pacheco, os arapaçus-lisos costumam copular no Jardim Botânico em meados de novembro.

A natureza sempre surpreende.


Love's in the air




Eu não gosto de usar flash, acho que tira a naturalidade da cena, mas o interior da floresta é muito escuro e estava estreando um TC de 2X, o que diminuiu em duas vezes também a luminosidade de minha lente. Então optei por usá-lo, por garantia.

Mas os arapaçus até que pousaram num lugar relativamente claro, bem acima da trilha. Até dava para fazer um bom registro sem o flash, mas na fotografia de aves são raras as situações que temos tempo de fazer muitos ajustes na câmera. Os bichos pousaram ali, apontei a câmera, fiz o foco e cliquei algumas vezes. Tudo durou pouquíssimos segundos. As duas fotos que fiz com o flash são estas acima(foram mais cliques, mas o flash não acompanha a velocidade de disparo da câmera, ou não tenho as manhas, pois confesso que não entendo nada deste equipamento).

O mesmo arapaçu, mas sob a luz solar.
Como quase tudo que é natural, muito melhor.


Quando este flagrante aconteceu ainda estava me recuperando do o. o. ocasionado pelo lifer de número 606. Mais uma vez minha queridíssima prima Rosana, observadora inata, encontrou este que é um dos concorrentes a menor ave brasileira. Com cerca de 2 gramas, o Rabo-branco-rubro, também conhecido como Besourinho-da-mata, é facilmente confundido com um inseto, principalmente quando em voo.

Imaginem um besouro voando... até que não é muito difícil fotografá-lo, pois seu voo é lento, mas no ambiente escuro da mata, focar aquele pontinho e ainda conseguir uma velocidade de obturador mínima para fazer um registro que ao menos identifique a ave é impossível!

Então comecei a torcer para que ele pousasse, só assim poderia registrar pela primeira vez aquele curioso beija-flor. E a felicidade foi completa quando, além de pousar, aquela pequena grande ave exibiu o leque para nós.

A falta de luz exigiu o uso do flash

Neste dia encontramos também dois bandos mistos na trilha da Mata Atlântica. Muito bom! Mas quando entramos na trilha o silêncio era total. Não desistimos, ficamos sentados, aguardando as aves aparecerem. Disse para o Bruno que as aves estavam por ali, mas devido ao descanso reprodutivo, estavam silenciosas. Permanecemos um bom tempo aguardando, mas nossa paciência não foi em vão. Encontrar um bando misto na mata é bom demais!

Diversas espécies de aves se valem desta estratégia para confundir os predadores, e nós, seus paparazzi, sentimos na pele que tal associação funciona mesmo, como tudo na natureza. A euforia é tamanha que ficamos um pouco dispersos. "Alí!" "Alá!" "Que é aquilo?!" KKK!!! Viramos meninos naquela verdadeira fonte da juventude.

Trilha da Mata Atlântica/foto de Rosana Barros

Mais uma vez agradeço aos queridos primos Angelo Bruno Frederico e Rosana Barros pela companhia mais que especial.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Mais do Pantanal

Ave amigos!

Pantanal é isto aí! É só fuçar que a gente acaba achando fotos legais perdidas nos arquivos. É uma viagem que rende...

Um jovem gavião-preto alimentava-se de uma cobra e entoava seu lamuriante pio

Araçari-castanho esbaldando-se em embaúba

Bando de aratinga-de-testa-azul, deram show!

Encontro de dois grandes brasileiros, o maior cervídeo com o maior roedor


Realmente o Pantanal é uma terra de superlativos.
Até as onças são mais pintadas!