terça-feira, 10 de março de 2015

Apacanim

Depois de apresentar-lhes o fantástico caso do jovem Leptodon http://ave-amigos.blogspot.com.br/2015/02/o-inexplicavel-caso-do-jovem-leptodon.html, vou falar um pouco sobre ele, o grande gavião-de-penacho.

A despeito de seu nome popular aqui no Brasil, o gavião-de-penacho é considerado uma águia-florestal.
Não vou entrar muito nessa seara, mas só para os caros leitores terem uma ideia do assunto, nosso povo conhece como gavião-real a mais possante águia do mundo.

Não temos o costume de chamar de "águia" nossas grandes aves de rapina, para nós, brasileiros, são todos gaviões, independente de ser falcão, águia, ou propriamente um gavião, o que no fundo não está errado, haja vista que nomes populares, como o próprio adjetivo diz, não guardam rigor científico.

Por isso, daqui pra frente, vou chamar de apacanim esta que é uma das águias mais vistosas do mundo - apacanim é o seu primeiro nome, batizado pelos primeiros habitantes desta terra que hoje conhecemos como Brasil.

Cientificamente, apacanim é conhecido como Spizaetus ornatus. Spizaetus é um gênero que engloba várias espécies de águias-florestais, que ocorrem em várias partes do globo. São aves fascinantes que impressionam qualquer um que tenha a oportunidade de encontrar uma, o que via de regra não é uma tarefa fácil, pois além de serem raras por natureza, pairam sobre elas terríveis ameaças, como a perda de habitat, a caça e o tráfico de animais.

Apacanim é especialmente vulnerável à perda de seu habitat, sendo muito pouco tolerante à destruição das florestas onde vive. Dentre os Spizaetus brasileiros, o que parece mais tolerante à fragmentação do seu habitat é o Spizaetus tyrannus (gavião-pega-macaco).

Já observei esta águia-florestal voando em círculos, a pouca altitude, em um bairro da minha cidade, entre quintais e uma área de pasto. Acho que estava caçando... talvez sem encontrar nenhuma presa, pegou uma térmica, ganhando altura rapidamente, foi em direção ao centro da cidade. Fiquei imaginando quão incrível seria estar em casa e ver pela janela um gavião-pega-macaco cruzar os céus da minha cidade.

Gavião-pega-macaco, também conhecido como apacanim-preto

Já o apacanim, só tive o privilégio de encontrá-lo uma vez, e mesmo assim porque havia um ninho ativo, encontrado no maior continuum de Mata Atlântica que ainda resta, no sul de São Paulo(sobre esta aventura: http://virtude-ag.com/passeio-o-ninho-do-gaviao-de-penacho-jan13-por-joao-sergio-barros/).
Apesar de já ter explorado vários lugares onde ele ocorre, o máximo que consegui foi ouvir sua vocalização distante, no Parque do Zizo, que aliás fica no mesmo continuum.
O apacanim só não se encontra ameaçado de extinção porque a Amazônia ainda pode garantir a perpetuidade dessa magnífica espécie. Mas mesmo na Amazônia nunca o encontrei, nos mais de 40 dias que lá estive, em três viagens.
Encontrar esta espécie é um grande privilégio. É impossível não se fascinar diante de tal obra-prima da natureza.
Tive esse privilégio e para que eu pudesse viver um pouco daquela emoção todos os dias da minha vida, não tive dúvida, enquadrei:



Mas uma das maiores satisfações que tive desde que comecei a fotografar nossa natureza, foi a escolha de uma das fotos que fiz desta espécie por uma das maiores e mais tradicionais editoras do Brasil, para ilustrar um material didático de Ciências.
Milhares de crianças vão conhecer o Apacanim através desta foto.

Só preserva quem admira e só admira quem conhece
Quem se lembra de como sua paixão pelas aves começou, quase sempre vai se lembrar da magia de uma foto.
Este é o maior prêmio que um fotógrafo de natureza pode receber - despertar a preservação através de seu trabalho.

Bem amigos, só restou falar do apacanim-branco, mas este ainda me falta história...