sexta-feira, 8 de maio de 2015

Reflexões dos 700

Ave!

700 lifers!

O que isso significa? Depende... pra uns uma vida, pra outros uma cisma.

A diversidade de formas de entretenimento contida numa passarinhada, creio eu, alçou essa atividade à principal forma de lazer de milhões de pessoas em todo o mundo. Dá pra curtir numa única atividade: trekking, fotografia, ecoturismo, turismo culinário, novas amizades, diferentes culturas, a paz que só a contemplação da natureza pode trazer, entre tantas outras coisas.


Muito mais popular em países ricos(prefiro classificar como "educados", pois a maior pobreza que um país pode ter é a ignorância de seu povo), nos EUA, por exemplo, existe até competição de quem consegue mais lifers, o que, aliás, virou até um estrelado filme: "The Big Year" (se você é birder e ainda não viu, corra para uma locadora).

Vejo gente cismada com isso por aí, criticando os caçadores de lifers. Por que? Não entendo.

Apesar de estarmos em franca ascendência, ainda somos tão poucos no Brasil... E se a gente quer que nossa atividade alcance um maior número de pessoas, em vez de críticas gratuitas, deveríamos enaltecer todas as facetas contidas na observação/fotografia de aves.


A meu ver, não deveríamos sugerir qualquer tipo de animosidade, muito pelo contrário, devemos nos esforçar para nos unirmos, respeitando todos os gostos e valorizando todas as formas de diversão que possamos extrair da nossa atividade.


Vou falar um pouco da minha experiência, a partir de quando comecei a fotografar (um exemplo também de que as coisas podem não ser estanques).


Comecei como um caçador de lifers. Foi aí que peguei o vírus da gripe aviária. Que deliciosa sensação que entorpece os sentidos a cada nova espécie fotografada... Tenho certeza que a grande maioria dos birders da nova geração, aquela que começou com a fotografia a partir do Wikiaves, passou por isso. Ou está assim até hoje... Bem, e daí?! Se isto ainda satisfaz, ótimo!


O que realmente importa é se divertir saudavelmente e de quebra estimular o ecoturismo. Isto é o básico, a partir daí cada um segue o seu caminho.

Agora o que não dá é esperar que todo birder vire um Capitão Planeta ou que tenha que se enquadrar em algum tipo de birder ideal. Uma lição que aprendi a duras penas nessa vida é que não devemos julgar os outros por nós mesmos.


Com o tempo, naturalmente o lifer foi perdendo o exclusivismo das minhas passarinhadas. Mas claro que ainda é uma grande satisfação achar um (que bom, pois não quero perder isso nunca), afinal, a partir dele, outras alegrias começaram a aparecer (mas ainda é um grande prazer fazer listas de lifers a cada lugar visitado).


Um registro de um comportamento, registrar pela primeira vez uma espécie para uma localidade, uma bela foto de uma espécie rara, ou simplesmente uma bela foto. Tudo isso é muito bom!

Pra mim, o simples fato de estar em um lugar selvagem, repleto de possibilidades, já me faz um bem danado.


Bem, a vantagem de você também investir em belas fotos é que de vez em quando a gente é premiado. Os 700 lifers serão marcados por acontecimentos muito felizes em minha vida como fotógrafo.

Quando o seu trabalho é reconhecido e vira produto de divulgação e, consequentemente, de preservação de nossa natureza, você experimenta uma sensação ainda melhor que o entusiasmo dos primeiros lifers. Foi o que aconteceu comigo recentemente quando fui procurado por uma tradicional editora que se interessou por duas fotos minhas, uma do uirapuru e outra do gavião-de-penacho, para ilustrar um material didático de Ciências que será distribuído em todo país.


Poder levar o conhecimento de nossas espécies para as futuras gerações é o maior prêmio que eu poderia receber e agradeço aqui a todos os amigos que de uma forma ou outra me incentivam a vagar pelos nossos sertões atrás de lifers, pois nestes dois casos, fui com esta iniciativa, eram lifers esperadíssimos, o gavião-de-penacho por exemplo era um sonho de infância.


Enorme satisfação também em poder colaborar com trabalhos que divulgam nossa avifauna aqui e lá fora, como no livro do ícone da cultura mineira, o Tavinho Moura, no inédito guia dos irmãos Mello  e na terceira edição do Handbook of Bird Biology, da Cornell (todos previstos para serem publicados ainda este ano).


Bem, a espécie de número 700 foi o chororó-cinzento(Cercomacra brasiliana), ave rara, quase ameaçada de extinção, encontrada pela primeira vez na Floresta Encantada, durante esta última magnífica excursão que estou relatando(falta o último capítulo, justamente referente à Floresta).


Sobre o chororó-cinzento, lê-se no Wikiaves: "Encontrado em poucas localidades do sudeste do Brasil, desde a Bahia central, extremo leste de Minas Gerais e Espítito Santo até o Sul do Rio de Janeiro. É incomum em todos estes locais, geralmente raro. Endêmica do Brasil."


Aliás, quando saí de férias faltavam duas espécies para as 700. Passei antes por Búzios, Serra do Cipó, mas só com os poderes da Floresta Encantada alcancei meu intento, com a pararu-azul(Claravis pretiosa) e o chororó-cinzento.

No próximo post falarei desta última visita à Floresta Encantada, que mais uma vez fez jus ao seu nome.

O chororó-cinzento não costuma facilitar o jogo


4 comentários:

  1. Parabéns, João, pela 700ª espécie fotografada. É uma marca expressiva, ± 1/3 das espécies do Brasil. Cheguei agora há pouquinho nas 600 espécies e, como não podia deixar de se, fiquei também muito feliz.
    Com exceção dos "listeiros hard core" gosto de todos os outros observadores de aves, tanto faz se só olham as do quintal, se viajam atrás de novidades, se usam binóculo, ou câmera, se ficam só de botuca prestando atenção no comportamento de um tico-tico uma tarde inteira, todos ajudam de alguma forma para a conservação do pouco que resta de nossa biodiversidade.
    Tive o prazer de estar presente nessa sua conquista e foi muito bom sentir sua alegria, espeicialmente por ter conseguido a marca na Floresta Encantada que tanto encanta a você e a todos os que a conhecem. Abração, e rumo às 800.

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  2. Grande marca, João! Parabéns. Fruto da dedicação e do apego à atividade. A "Encantada" o ajudará a chegar na próxima marca centenária.

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  3. Foi perfeito em suas colocações, João!
    Forte abraço!

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  4. Joao, nao fotógrafo, nao vivo na floresta encantada, mas amo passaros e pessoas como voce que acreditam nos sonhos e mergulham na realizaçao deles. Parabens e obrigada por compartilha-los!

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