quinta-feira, 5 de novembro de 2015

No coração da Amazônia, primeira parte

Ave amigos!

A maior floresta tropical do mundo está secando! Mas apesar da destruição o paraíso ainda existe e resiste à maior praga de todas, a ambição.

Algo precisa ser feito urgentemente, poucos ganham em detrimento do resto do mundo, pois não tenham dúvida de que para a sobrevivência de nossa espécie é preciso que aquele santuário ecológico seja preservado. Interesses econômicos não sustentáveis precisam ser contidos, não podemos impor nosso modelo econômico capitalista falido àquela região.

Mas vamos falar de coisa boa, vamos adentrar o coração da Amazônia! Enquanto a vida ainda existe em abundância e esplendor!

Fomos à caça de três habitantes amazônicos excepcionais. Ou melhor, quatro, porque o meu companheiro de passarinhada, o multi artista Tavinho Moura e sua adorável esposa, a Sica, também visavam o extraordinário, porém tímido, beija-flor-brilho-de-fogo. Tarefa muito mais difícil que os nossos extravagantes objetivos em comum.

Nos primeiros dias de nossa viagem pegamos uma grande seca e um calor sem precedentes, realmente desanimador o cenário. Em vez daquela evapotranspiração do sempre verde que encharca a atmosfera de umidade, o que se via da torre do Jardim Botânico de Manaus era uma desoladora cortina de fumaça.

E as aves pareciam sentir também, pois o movimento no dossel foi aquém do esperado.


Se não fossem as saíras-negaça faltaria brilho nesse primeiro dia de torre


Atmosfera enfumaçada e maitacas-roxas à distância

Anambé-branco-de-rabo-preto pousou do lado da torre

Poucos e distantes lifers desfilaram neste dia: papagaio-diadema, araçari-miudinho, tem-tem-de-topete-ferrugíneo, macuru-pintado, poiaeiro-da-guiana, um casal de maitacas-roxas e só. Com foto boa só a saíra-negaça mesmo.

Nosso guia, o ornitólogo Marcelo Barreiros já nos havia alertado. Parecia que a seca e o calor escassearam o alimento na floresta e as aves deveriam estar poupando energia. Essa era sua teoria, bem lógica por sinal.

Mas não deu tempo de deixarmos a peteca cair. Partimos dali com a adrenalina a mil pois para nossa surpresa naquele mesmo dia iríamos encontrar uma das aves mais fantásticas do mundo, o incrível galo-da-serra.

Ao contrário do que estamos acostumados, o melhor horário pra observá-lo é à tarde, onde vários machos se reúnem em um local conhecido como arena. Na arena, todos os anos, em determinados meses, vários machos se exibem para conquistar uma fêmea, como nos nossos bailes ou coisas do gênero.

A arena está localizada numa campinarana, ambiente amazônico bem diferente do que estamos acostumados a ver. Nada de árvores gigantescas com troncos de grossos calibres. A Amazônia é muito mais do que a gente imagina...

Ao fundo três machos, mas às vezes víamos muitos mais na mesma cena
Foto de Sylvia Dantas

Há várias descrições na internet e em livros, mas nada se compara a vivenciar esse momento. Deixo com vocês pelo menos uma fração de segundo, um momento mágico que a tecnologia moderna consegue captar e eternizar.

A ave do paraíso brasileira, psicodélica


Mas no caminho para o galo, o primeiro dos três grandes objetivos, outro ente amazônico fantástico.

Faltando alguns dias para nossa viagem, pintaram algumas fotos de um urutau incrível, de plumagem e comportamento ímpares, tanto que o Marcelo me disse que provavelmente essa espécie será a única do gênero.

O Marcelo achou o ninho de um urutau-ferrugem e seus sortudos clientes tiveram acesso, mas já havia um tempo que não via nenhuma foto do bicho no Wikiaves e provavelmente o filhote já havia nascido. Não tínhamos nenhuma informação recente, nem o próprio Marcelo que estava estudando o ninho.

Vocês podem imaginar a expectativa... Antes de tudo, será que o filhote havia vingado? Caso positivo, como ele estaria? Com um dos pais? Sozinho? Como ele deveria ser? Afinal nunca vi uma foto do filhote, aliás esse era o primeiro ninho desta espécie que estava sendo monitorado! Pesquisei na internet e não havia nenhuma foto do filhote desta espécie. Era praticamente como descobrir uma nova espécie, nunca dantes vista.

Seguimos por uma trilha na mata, Marcelo nos guiando, até que ele nos alivia: alí está ele!!!

Uma imagem vale mais que mil palavras:

Dá pra imaginar como foi ver "isso" pela primeira vez?!!!
Não costumo filmar, pede um bom tripé que me falta, mas neste caso abri uma exceção. É incrível como o filhote aprende desde cedo a imitar o movimento causado pelo vento na floresta:
https://www.youtube.com/watch?v=QAl3af0Ln78

Esse foi um primeiro grande dia! Como um daqueles grandes clássicos do rock progressivo, um começo devagar, um meio estonteante e um desfecho psicodélico.

Depois de tanto rock'n roll, nada como um banho refrescante num igapó e um suco do mais legítimo açaí. Assim terminamos um dos dias mais fantásticos de nossas vidas.

7 comentários:

  1. Que qué isso, João?!
    O Tavinho que me perdoe, mas isso é rock mesmo, cara.

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  2. Que qué isso, João?!
    O Tavinho que me perdoe, mas isso é rock mesmo, cara.

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  3. Nossa!! Tudo um sonho para nós observadores... Parabéns pela bela viagem, João, e por todas as belas fotos que vi agora no seu maravilhoso blog, e espero curtir as próximas!

    Abraço.
    Lucia Calvet

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    1. Fico feliz em saber q gostou, Lucia. Em breve continuaremos viajando...
      Abração

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  4. Estupenda experiência, João. Incrível esse urutau mais que especial! Parabéns pelas imagens

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    1. Estupendo mesmo Mestre! Especial demais, tudo! Mas realmente este filhote, pelo ineditismo, se destacou.
      Muito obrigado!

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