domingo, 8 de novembro de 2015

No coração da Amazônia, última parte

Voltamos para Manaus com a alma lavada! Urutau-ferrugem, galo-da-serra, rabo-de-arame e falcão-de-peito-laranja protagonizaram uma das mais fantásticas viagens da minha vida.

Mas não falei ainda do falcão... foi porque ele deixou para fechar com chave de ouro nossa expedição amazônica.

Raro e belo Falco florestal

O falcão nos recebeu na torre no último dia de nossa viagem, foi o primeiro bicho avistado por mim ao terminar a subida. Pensa na emoção...

Neste último dia contamos com a companhia do famoso fotógrafo/ornitólogo Ciro Albano e sua esposa, assim como a esposa do nosso guia, o Marcelo Barreiros. Reza a lenda que o Ciro fez pacto para atrair as aves, prefiro acreditar que foi a chuva.rs Quanto bicho!!! Foi um grande desfile, a torre bombou!!! Praticamente todos os bichos aguardados e que não vimos nos dois primeiros dias conseguimos não só ver como fotografar neste último. Até para o experiente Ciro teve lifer(claro, afinal não se vende a alma à toa...) sacanagem Ciro kkk.

Nesta viagem pude conhecer também o Tomaz Melo e o Anselmo d'Affonseca, ambos gente boa um tanto... Galera, foi um grande prazer conhecê-los pessoalmente. Outra coisa boa demais nesse tal de passarinhar, nossa turma é muito bacana! Até hoje não conheci ninguém que fugisse à regra.

Pipira-de-bico-vermelho


Caçula, um dos menores pássaros do mundo

Araçari-negro, outro lifer muito aguardado

O festejado capitão-de-bigode-carijó, um legítimo angry bird 

Show do bando de chora-chuva-de-asa-branca

Um momento raro, gavião-ripina relativamente perto

Casal de pica-pau-de-colar-dourado

Macuru-de-pescoço-branco


É isso amigos, vamos visitar nossa Amazônia! Além dos bichos fantásticos que só têm lá, outro grande lance é que a gente mata a saudade daqueles bons velhos tempos. Lá é possível voltar ao passado e sentir aquela empolgação das primeiras saídas a campo, quando quase tudo é novidade. É um novo e imenso mundo a explorar. Acredito que o ecoturismo pode ajudar e muito na preservação deste nosso tesouro.

No coração da Amazônia, a Amazônia pra sempre no nosso coração

sábado, 7 de novembro de 2015

No coração da Amazônia, terceira parte

Confesso que, antes de ver o vídeo que o Marcelo Barreiros fez do rabo-de-arame dançando e tentando conquistar a fêmea, o galo-da-serra era o primeiro da minha lista nesta viagem.

Fiquei embasbacado e sonhando em presenciar aquele ritual indescritível e não tive como eleger outra espécie para representar uma expressiva marca na minha vida de fotógrafo de aves, a 800ª espécie brasileira registrada no Wikiaves.

Nosso destino, o Parque Nacional de Anavilhanas, que nasceu para proteger um dos maiores arquipélagos fluviais do mundo com cerca de 400 ilhas! Um verdadeiro paraíso ecológico onde a natureza intocada é a morada de uma das aves mais fantásticas do planeta!

Vista parcial do arquipélago, a pequena mancha rosa na beira do rio é Novo Airão


Na cheia esse caminho é feito de barco
Foto gentilmente cedida por Sylvia Dantas


O espetacular rabo-de-arame


Para o deslumbre de uma pequena plateia estarrecida, o show foi completo. O palco, o verdadeiro paraíso, mais uma vez só faltou a água, pois se não fosse a seca, chegaríamos até o local remando pelos igarapés, entre raízes aéreas e bandos de aves, conforme nos relatou nosso guia. Com certeza seria mais "chocante"!

Faltou a água, mas os pássaros estavam lá, seria efeito da chuva de véspera? Talvez, mas o lugar deve ser top mesmo, além do rabo-de-arame, só no caminho de volta para o barco foi um festival de lifers, com destaque para o pica-pau-de-coleira que deu um mole danado.

Pica-pau-de-coleira

Bem amigos, só o espetáculo protagonizado pelo pequeno grande piprídeo já vale e muito uma viagem para "Maravilhanas", como muito bem foi apelidado o local.

Despeço-me com um pouco do espetáculo:
https://www.youtube.com/watch?v=Mfludj0H4-0


No coração da Amazônia, segunda parte

No segundo dia eu e o Marcelo partimos para um parque em Presidente Figueiredo mesmo, enquanto o Tavinho e a Sica preferiram passarinhar na área do hotel. Afinal era lá que tinha um ponto conhecido e muito acessível do sensacional beija-flor-brilho-de-fogo, um dos objetivos do Tavinho, além de ter bastantes caboclinhos-de-peito-castanho, outro passarinho bem legal que o Tavinho tava doido pra fotografar.

Como sempre, partimos cedo. No meio da estrada de terra que dava acesso à BR encontramos um belíssimo gavião-branco se alimentando de um minhocuçu. Sempre quis encontrar esse gavião, uma pena que as condições de luz ainda não estavam boas, o dia alvorecia.

O gavião voou até este tronco(?) e continuou seu desjejum

Depois de começar o dia com o pé direito, chegamos ao parque e como não podia ser diferente, o local estava sentindo os efeitos da seca prolongada também. Aliás eu estava torcendo para chover desde quando o Marcelo tinha me falado da seca e das queimadas na região. E mais uma vez o movimento na floresta parecia estar aquém de um dia típico de primavera na Amazônia. Mas mesmo assim consegui algumas fotos legais de lifers.

Papa-moscas-uirapuru
Arapaçu-pardo
Formigueiro-de-hellmayr


Digno de menção também foi o beija-flor-de-bochecha-azul fazendo ninho que o Marcelo achou, ele me contou que este beija-flor chega e sai do ninho de um jeito bem diferente, mimetizando uma folha caindo na floresta, fato que pude apreciar mas infelizmente não consegui registrar. Ele sai do ninho com as penas da cauda abertas e com um bater descompassado das asas, muito diferente e legal mesmo!

O beija-flor e seu ninho


Os lifers do Parque Municipal da Cachoeira das Orquídeas: limpa-folha-de-sobre-ruivo, fruxu-do-carrasco, arapaçus rabudo, assobiador e pardo, papa-moscas-uirapuru, bico-chato-de-rabo-vermelho, joão-tenenem-castanho, choca-bate-cabo, choquinha-de-garganta-cinza, formigueiro-de-hellmayr.

No dia seguinte iríamos ao Ariaú, mas a seca impediu que chegássemos ao hotel, já que a única forma viável de chegar até lá era pelo rio Ariaú que se encontrava bem abaixo do normal. Então arriscamos uma fruteira em Manacapuru, mas não tivemos muita sorte, pois as frutas já estavam acabando e o movimento deixou a desejar. Mas como estávamos na Amazônia, lifers sempre pintam.

Maria-te-viu


Suiriri-de-garganta-rajada

Periquito-de-asa-dourada
Os esperados uirapuru-de-cabeça-azul e cabeça-dourada não apareceram, ou melhor, só uma fêmea do cabeça-dourada que mesmo assim não rendeu boas fotos.

Voltamos para Manaus e no dia seguinte novamente à torre. Foi o pior dia lá, nenhum lifer, nenhuma foto legal, um silêncio mortal. Também nenhuma gota de chuva até então, porém nuvens pesadas se avizinhavam. E parecia que ia chuver forte! Então nosso guia pediu para nos apressarmos e com as malas prontas no carro partimos para Novo Airão, terra do incrível rabo-de-arame.

Fumaça vista da torre


No caminho uma copiosa chuva nos apanhou.
Será que as aves apareceriam na torre no derradeiro dia? Que aquela fumaça infernal se dissiparia? Que a chuva seria o suficiente para apagar as queimadas?
Nunca uma chuva havia me deixado tão feliz.

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

No coração da Amazônia, primeira parte

Ave amigos!

A maior floresta tropical do mundo está secando! Mas apesar da destruição o paraíso ainda existe e resiste à maior praga de todas, a ambição.

Algo precisa ser feito urgentemente, poucos ganham em detrimento do resto do mundo, pois não tenham dúvida de que para a sobrevivência de nossa espécie é preciso que aquele santuário ecológico seja preservado. Interesses econômicos não sustentáveis precisam ser contidos, não podemos impor nosso modelo econômico capitalista falido àquela região.

Mas vamos falar de coisa boa, vamos adentrar o coração da Amazônia! Enquanto a vida ainda existe em abundância e esplendor!

Fomos à caça de três habitantes amazônicos excepcionais. Ou melhor, quatro, porque o meu companheiro de passarinhada, o multi artista Tavinho Moura e sua adorável esposa, a Sica, também visavam o extraordinário, porém tímido, beija-flor-brilho-de-fogo. Tarefa muito mais difícil que os nossos extravagantes objetivos em comum.

Nos primeiros dias de nossa viagem pegamos uma grande seca e um calor sem precedentes, realmente desanimador o cenário. Em vez daquela evapotranspiração do sempre verde que encharca a atmosfera de umidade, o que se via da torre do Jardim Botânico de Manaus era uma desoladora cortina de fumaça.

E as aves pareciam sentir também, pois o movimento no dossel foi aquém do esperado.


Se não fossem as saíras-negaça faltaria brilho nesse primeiro dia de torre


Atmosfera enfumaçada e maitacas-roxas à distância

Anambé-branco-de-rabo-preto pousou do lado da torre

Poucos e distantes lifers desfilaram neste dia: papagaio-diadema, araçari-miudinho, tem-tem-de-topete-ferrugíneo, macuru-pintado, poiaeiro-da-guiana, um casal de maitacas-roxas e só. Com foto boa só a saíra-negaça mesmo.

Nosso guia, o ornitólogo Marcelo Barreiros já nos havia alertado. Parecia que a seca e o calor escassearam o alimento na floresta e as aves deveriam estar poupando energia. Essa era sua teoria, bem lógica por sinal.

Mas não deu tempo de deixarmos a peteca cair. Partimos dali com a adrenalina a mil pois para nossa surpresa naquele mesmo dia iríamos encontrar uma das aves mais fantásticas do mundo, o incrível galo-da-serra.

Ao contrário do que estamos acostumados, o melhor horário pra observá-lo é à tarde, onde vários machos se reúnem em um local conhecido como arena. Na arena, todos os anos, em determinados meses, vários machos se exibem para conquistar uma fêmea, como nos nossos bailes ou coisas do gênero.

A arena está localizada numa campinarana, ambiente amazônico bem diferente do que estamos acostumados a ver. Nada de árvores gigantescas com troncos de grossos calibres. A Amazônia é muito mais do que a gente imagina...

Ao fundo três machos, mas às vezes víamos muitos mais na mesma cena
Foto de Sylvia Dantas

Há várias descrições na internet e em livros, mas nada se compara a vivenciar esse momento. Deixo com vocês pelo menos uma fração de segundo, um momento mágico que a tecnologia moderna consegue captar e eternizar.

A ave do paraíso brasileira, psicodélica


Mas no caminho para o galo, o primeiro dos três grandes objetivos, outro ente amazônico fantástico.

Faltando alguns dias para nossa viagem, pintaram algumas fotos de um urutau incrível, de plumagem e comportamento ímpares, tanto que o Marcelo me disse que provavelmente essa espécie será a única do gênero.

O Marcelo achou o ninho de um urutau-ferrugem e seus sortudos clientes tiveram acesso, mas já havia um tempo que não via nenhuma foto do bicho no Wikiaves e provavelmente o filhote já havia nascido. Não tínhamos nenhuma informação recente, nem o próprio Marcelo que estava estudando o ninho.

Vocês podem imaginar a expectativa... Antes de tudo, será que o filhote havia vingado? Caso positivo, como ele estaria? Com um dos pais? Sozinho? Como ele deveria ser? Afinal nunca vi uma foto do filhote, aliás esse era o primeiro ninho desta espécie que estava sendo monitorado! Pesquisei na internet e não havia nenhuma foto do filhote desta espécie. Era praticamente como descobrir uma nova espécie, nunca dantes vista.

Seguimos por uma trilha na mata, Marcelo nos guiando, até que ele nos alivia: alí está ele!!!

Uma imagem vale mais que mil palavras:

Dá pra imaginar como foi ver "isso" pela primeira vez?!!!
Não costumo filmar, pede um bom tripé que me falta, mas neste caso abri uma exceção. É incrível como o filhote aprende desde cedo a imitar o movimento causado pelo vento na floresta:
https://www.youtube.com/watch?v=QAl3af0Ln78

Esse foi um primeiro grande dia! Como um daqueles grandes clássicos do rock progressivo, um começo devagar, um meio estonteante e um desfecho psicodélico.

Depois de tanto rock'n roll, nada como um banho refrescante num igapó e um suco do mais legítimo açaí. Assim terminamos um dos dias mais fantásticos de nossas vidas.